quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

3/28/2004 10:11:30 AM

Deu no Estado de São Paulo, Caderno 2, domingo, 28/3/04:


VOZES FEMININAS NOS VERSOS DE 'CINCO MARIAS'

Lançamento de Fabrício Carpinejar dá seqüência ao seu romance poético ao abordar o universo e a sensibilidade de cinco mulheres


KARLA DUNDER


Crédito Renata Stoduto/Divulgação




Cinco Marias é um jogo de criança. Algo mais ou menos assim: com as cinco marias (pedrinhas) em mãos, o jogador deve escolher uma delas, que será arremessada ao alto e, ao mesmo tempo, deve pegar uma das quatro que sobraram, sem tocar nas demais. Fabrício Carpinejar parte dessa imagem, da brincadeira da irmã que ele observava à espreita, e das memórias de sua infância para dar seqüência ao seu romance em versos, que explora as fronteiras entre prosa e poesia.


Cinco Marias (Bertrand Brasil, 108 págs., R$ 19, tel. 0--21 2585-2070) dá continuidade à história de Biografia de uma Árvore, agora o foco é a família do dr. Ossian, médico psiquiatra que considerou como louco o protagonista Avalor, de obras anteriores. Fabrício dá voz à mãe e quatro filhas. A obra pode ser lida separadamente ou como continuação das anteriores.


Esse é um livro que dá voz às mulheres, um diário composto por cinco vozes, sem marcações ou texto teatral, o leitor é convidado a descobrir quem está falando. O final é surpreendente. "Sempre convivi com mulheres, mãe, irmã e amigas e procuro repassar esse universo no livro. A mulher tem uma sensibilidade diferente para lidar com a realidade, os homens utilizam muitos filtros para chegar a ela", observa. "Uma menina, ainda criança, tem muito mais sensibilidade adulta, mais maturidade que um menino e uma maturidade que os homens nunca vão entender. Quero falar das mulheres, não como elas."


O enredo nasce de experiências do passado. "Todos os meus livros estão na infância. Tinha uma caixa de sapatos onde guardava fotos, cartas e as cinco marias, que eram de minha irmã, que eu sempre quis, mas nunca aprendi a jogar; era uma brincadeira de meninas. Meus livros são como relicários, um estojo com coisas esquecidas", diz o poeta.


No entanto, para ele a poesia não é um instrumento de reconstrução do passado. "Esquecer é uma vaidade, uma forma de se preservar, muito mais do que lembrar de algo. Lembrar é inventar, moldar a memória e contar aquilo que se quer."


O núcleo familiar é outro aspecto marcante na obra de Carpinejar. "Todas as tensões estão ali. Trabalho esses aspectos humanos na minha poesia." A proposta do autor está em deixar sua poesia cada vez mais pessoal, o que a tornaria cada vez mais universal.


A poesia toma a forma de um bate-papo, de uma conversa informal com o leitor, muito em função do processo de escrever ou compor do autor. Os livros só são escritos depois que a história está pronta. "Memorizo tudo, ao caminhar, por exemplo, recapitulo versos, que ficam impregnados pelo trotear. Já cheguei a perder livros inteiros, porque me esqueci, mas creio que eles precisam sobreviver primeiro à memória. Nesse desenrolar faço ajuste dos sons, ritmo, tudo para manter o frescor da conversa."


Fabrício observa que os grandes fatos norteiam a vida, mas os detalhes a definem. "A poesia é uma construção, eu procuro renovar o gosto pela fala, pela língua a partir desses detalhes." Ele conta que ao entregar o livro para a editora se esquece completamente da obra e leva de três a quatro anos para lançar um novo livro.


Ao mesmo tempo defende o erro nos livros. "O poeta precisa saber errar em sua obra, deixar o leitor respirar. Se tudo fosse perfeito seria insuportável para quem está lendo. Quando o homem erra pode ser o que é, um poeta não erra menos, erra melhor."


Quanto às inspirações, ele brinca: "Minha grande referência foi a minha asma. Com ela aprendi a falar diferente, falo como respiro. Meus versos são curtos, como arroubos de consciência."


Debate - No dia 13 de abril será o lançamento de Cinco Marias na Livraria Cultura (Av. Paulista, 2.073) a partir das 19h30. Antes dos autógrafos, ele participa do debate Jogando Cinco Marias, com Marcelino Freire, e leitura de poemas por Denise Silveira.


No dia 15 de abril, a partir das 18h30, ele abre a Roda de Leitura Panorama da Poesia Brasileira Contemporânea, Centro Cultural Banco do Brasil do Rio.


No dia 4 de maio, segue para Porto Alegre para lançar na Livraria Cultura a obra que deve chegar às livrarias na primeira semana de abril.

Nenhum comentário:

Postar um comentário